No dia que voltei ao trabalho recebi, no Centro de Documentação, um Missal Romano de 1908 para o acervo do nosso Museu. Apesar de ter pouco mais de 100 anos (há livros mais antigos e até mais importantes) a beleza de sua encadernação e impressão nos obriga a conservá-lo.
A capa em madeira, forrada com tecido de algodão é ornamentada com cantoneiras e enfeites em renda de ferro e pedras. As pedras desse livro podem ser ametista, mas necessito de uma avaliação mais profissional para afirmar. Até o Renascimento os livros eram guardados deitados e não em pé como vemos hoje nas estantes. Então a pedra incrustrada, nesse caso, protegia a capa do livro porque o deixava acima da superfície.
A ametista é uma pedra muito usada em ornamentos religiosos. Sua cor está associada a penitência, a piedade e a humildade. Na Idade Média acreditavam que essa pedra encorajava o celibato e ela se tornou símbolo da espiritualidade. Por isso muitos paramentos da Igreja Católica foram ornamentados com a ametista.
No século XV surgiu a imprensa e o livro foi muito difundido. A encadernação tomou importância de obra de arte e seu mercado cresceu muito deixando de ser uma exclusividade dos monges. Foi um tempo em que cresceram os ateliês privados de encadernações.
O livro que recebi foi impresso em 1908, como mostro na foto acima, em Latim, na Europa. No enchimento da contra capa encontrei papeis escritos em alemão. Encontra-se bem conservado, porém com vestígios de umidade. O próximo passo será higienizar todas as sua partes (capa, lombada, páginas), procurar todas as informações possíveis a respeito dessa obra (tipo de material usado na impressão e encadernação, tipo de papel, para que e onde serviu, como chegou aqui), fazer pequenos reparos e só então colocá-lo nas prateleiras (protegido por vidros) de exposição do Museu Arquidiocesano para apreciação pública.
Há ilustrações belíssimas em muitas de suas páginas. Considero importante que o povo veja um livro que foi usado nas Missas até antes do Concílio Vaticano II no início da década de 1960.
Está perfeita, apesar da péssima foto que fiz, a douração em suas bordas. Esse tipo de capa ainda era feita por artesãos no final do século XIX. Portanto é bem possível que alguém tenha encomendado um trabalho desse no início do século XX a um especialista em encadernação.
Lendo e estudando sobre o assunto percebo que ainda preciso aprender tanto. Mas agora é arregaçar as mangas, calçar as luvas e mãos a obra, literalmente.
Fontes:
BECK, Ingrid - Manual de Conservação de Documentos. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1985
Funart, Rio, 1988;CASTELLO BRANCO, Zelina - Encadernação História e Técnica. Editora Hucitec, São Paulo, 1978.
16 comentários:
Que liiindo!
Eu fui acólito por cinco anos na minha vida. E sevir ao altar com um Missal desse seria uma honra.
Grande livro.
Meu beijo!
Uma verdadeira obra de arte, Gi.
Acho o teu trabalho muito interessante, principalmente porque acaba tendo grandes conhecimentos sobre a História do Catolicismo.
Lindo o livro.
Excelente final de semana.
Bjs no coração!
Nilce
Menina,
fico, aqui, imaginando sua emoção ao manusear um livro com essa importância.
Beijos
Gi me arrepiei toda lendo seu texto, vc tem um amor por livros que ficou muito evidente. Lembrei que minha avó tinha um missal em alemão que foi do pai dela, não sei que fim levou , vou perguntar a minhas tias.Fiquei imaginando as mãos que o tocarão, a deferência e respeito de quem o possuiu. Foi uma viajem e tanto capriche gata e depois nos mostre. Um beijo da Eliane.
Giovanna,
Que preciosidade!
Imagino como deve ser emocionante poder cuidar e manusear um livro como esse.
Bjs.
Que preciosidade, não é mesmo. IMAGINO A SUA EMOÇÃO.?
BJS
Oi, minha querida
Vc se santifica com o que vem às suas mãos!!!
Bjs de fim de semana e bem feliz...
Giovana, tenho a maior admiração pelo seu trabalho! Que preciosidade esse Missal, gostei de saber a história dos detalhes.
bjs
Jussara
Gio,
Que coisa mais linda esta relíquia!
Você tem um trabalho belíssimo para desenvolver por aí, parabéns!
bjs cariocas e ótimo domingo!
Ola,Giovanna.
Que maravilha esse livro,uma preciosidade,sem duvida.A recuperaçao e um trabalho muito minucioso,como voce bem descreve,e descobrir as origens desse livro deve ser uma etapa muito envolvente.Bj,amiga, e uma feliz e produtiva semana para voce.zenaide storino.
Gi
Nossa, que orgulho poder manusear e apreciar essa riqueza. Tá vendo, você tem mais é que amar esse seu trabalho mesmo.
beijos
Gi! Que coincidência, estou quase terminando de ler As Memórias do Livro, que trata de um livro judeu, uma Hagadá, de 500 anos, que foi perdido e encontrado depois da guerra da Bósnia em Sarajevo...tem tudo a ver com vc...é sobre uma restauradora de livros antigos, vc precisa ler! Se não leu ainda, é da Geraldine Brooks. Essa capa me fez "enxergar" o hagadá da estória.Que post magnífico! Parabéns pelo seu trabalho, minha amiga querida...é dignificante! Cultura pura! beijos enormes!
Oi, Giovanna!
Fascinante! De fato, uma obra de arte.
Adorei o post. Aprecio antiguidades,pois,elas nos contam um pouco da história do que não vimos, nem vivenciamos.
Grande abraço
Socorro Melo
Que Lindo amiga, e paga alguma taxa para se ler esses livros?
Beijos
Ah hj postei umas frutas que fiz, deixo o link e conto com seu comentário.
http://www.joanacampos.com/2011/02/uvas-fofurices.html
tiesperooooo!
Olá Giovanna,
Essa ideia é fantástica!!!
Levar a leitura aonde o povo está. Tornar a espera em algo prazeroso.
Bacana isso...
Quer dizer que é rato de biblioteca???kkkkkkkkkkkkkkkk
Bjs mil
aaaammmeeeii!! mmmto lindo!!
q bom que esta bem conservado!
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