sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Cada um doa o que tem

Queridos e queridas, saudades! Aproveito aqui a pausa para o almoço pra me comunicar com vocês e agradecer todo o carinho comigo nesses meus dias de luto. Estamos todos recomeçando. Já temos um novo Vigário Geral e as lembranças alegres dos momentos tantos que partilhamos nos animam.

Sabe, pensando na vida de padre Maurício, que nada tinha, tudo partilhava e doava aos menos favorecidos e em tantas coisas que vemos  no nosso dia-a-dia, lembrei de um fato que chamou minha atenção no início do ano. Por ocasião das chuvas que caíram na Região Serrana do Rio, muitas pessoas se mobilizaram com doações para os desabrigados. Certo dia ao entrar na internet me deparei com uma notícia estarrecedora. Digo esterrecedora porque muitas vezes, na nossa inocência, achamos que todas as pessoas são boas, solidárias, éticas, justas. A vida não é assim não, infelizmente. A notícia mostrava as doações impróprias para os desabrigados. Sim impróprias,  nem sei se deveria usar esse adjetivo, mas nessa correria não consigo encontrar outro e não ser indelicada com quem lê esse blog. Explico: pessoas haviam doados brinquedos estragados, bonecas sem cabeças, fraldas sujas e roupas rasgadas. Fiquei pasma! Acho que dessa forma as pessoas acabam por revelar o desprezo e a indiferença que têm com  a dor do outro, com o sofrimento de quem está ao seu lado. Foi preciso a coordenação da campanha anunciar que precisavam de roupas e brinquedos sim, porém em bom estado. Aqui no Espírito Santo, também numa época de chuvas de um janeiro desses a Defesa Civil precisou  anunciar que as pessoas precisavam de muitas coisas, inclusive de roupas íntimas, mas que essas deveriam ser entregues  limpas.

Na época alguém perguntou: mas há quem doe roupas sujas? Sim há quem doe roupas sujas, rasgadas, podres. Peço perdão a quem discorda, mas quando vejo uma pessoa brigando, xingando uma criança que ao pedir na sua casa algo para comer, recebeu pão cheio de bolô e duro e decidiu jogar fora, fico indignada. Se não serve para os meus filhos comerem como pode servir para os dos outros?Há quem doe o que não lhe serve nem para pano de chão porque cada um doa o que tem, não o que tem em casa, na sua dispensa, no seus armários, cada um doa o que tem no coração.
Hoje recebi uma doação de carinho, de afeto. Recebi uma doação de um coração que transborda em ternura e amizade. Alguém que está há quilômetros de distãncia mas mantém comigo, sem pedir nada em troca, uma relação fraterna. Recebi um conto de presente da minha amiga Glorinha do Café com Bolo. E ao agradecê-la, num comentário, escrevi assim:
"Ai meu Deus!!Quase tenho um troço aqui gente. Fui ler os comentários no meu blog e leio que alguém fez homenagem a minha pessoa...Que isso??Tô acostumada com isso não gente. Sou uma bibliotecária quieta, discreta, silenciosa na maioria das vezes... Mas Glorinha é Glorinha, essa mulher que transforma palavras em poemas, que transforma  pingos e pontos em presentes. Assim ganhei esse presente hoje. E olha que esses dias, com o falecimento do meu amigo estou tão triste e além do mais com muito trabalho atrasado. Os livros rebeldes para domar, limpar, higienizar, guardar. As palavras presas na garganta que precisam sair e cair direto no papel ou na tela do computador, para ser mais moderna. Meu artigo para a coluna Arquivo e Memória, que escrevo mensalmente para Revista Vitória, está atrasadíssimo. Por isso não entrei no blog ontem, não comentei nos blogs dos amigos. Culpa das palavas, sejam as dos livros que precisam ser guardadas e preservadas, sejam as minhas que precisam sair como num parto difícil. Glorinha amiga, cada dia me apaixono mais por você. O que farei eu com tanto amor? Amor fraterno é claro, mas amor forte e verdadeiro, daqueles que a gente guarda quietinho até o dia de encontrar quem o queira ou mereça. Bjs querida"

E assim a gente  ganha o dia...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Vida Continua

Ainda muito triste, mas me conformando com cada lembrança boa que ficou desse nosso convívio de 24 anos, vou levando e seguindo em frente. Não somente eu, mas todos os que conviveram com ele.

(Provavelmente rindo de alguma piada que ele contou)

E a vida continua ...uns partem outros chegam...


Antônio chegará no final de  março




Gabriel ja está quase chegando, talvez ainda em fevereiro, venha como um anjo alegrar a sua família.

A vida se renova

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Luto, Amigo é coisa pra se guardar...

Não sei que outro título dar para esse post de hoje, pois o dia é de dor e tristeza. Cônego Maurício, meu amigo tão querido, não resistiu à doença e a dor e nos deixou no fim da tarde dessa quinta feira, 17 de fevereiro. Foram 4 meses de internação, uma verdadeira via sacra. Perdemos um pouco da alegria mas ele deixa uma belo testemunho de vida. Foi sempre uma pessoa solidária, amável, coerente e correta. Contei a história dele aqui e sempre recebi de vocês muito carinho. Agora nos preparamos para a parte mais triste, velório e enterro. Mais triste para nós que ficamos com a saudade apertando o peito. Pra ele é um ganho, lucro, tanto pela dor que sofria no leito do hospital, quanto pela fé que viveu, pois sempre acreditou no céu. Só agradeço a Deus por ter convivido e trabalhado por 24 anos com essa pessoa tão especial.

Almoço que preparei em comemoração aos 60 anos de sacerdote de Cônego Maurício




Leia mais aqui e aqui 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Chico Mendes: crime e castigo


Acabei de ler o livro do Zuenir Ventura, Chico Mendes: crime e castigo, e fiquei com aquele gostinho de quero mais ou com aquela sensação de que a história não acabou. Acredito literalmente que a história não tenha acabado mesmo. Afirmo isso sem nenhum discurso panfletário, mas considerando que a luta de Chico Mendes, e consequentemente sua morte,  trouxe ao mundo um novo olhar sobre os povos da floresta.

Imagem: ebah.com.br

A querida Beth, do Mãe Gaia, sugeriu no post passado, que eu comentasse o livro do Zuenir  e então aqui estou.

A obra trata de reportagens do Zuenir feitas na ocasião do assassinato do Chico Mendes em 1988 e  na época do julgamento, dois anos depois. Em 2003, ao saber do interesse da Editora em publicar um livro com essas reportagens retornou ao Acre (Rio Branco e Xapuri) para  apurar e relata o que aconteceu com  os personagens envolvidos no episódio.


Adorei retomar toda a história de vida do ambientalista e mais ainda sua ideia de um novo olhar sobre a floresta. É perfeita a descrição de Zuenir a repeito do homem, grande líder que chamou, de forma inusitada e inteligente, a atenção do mundo para a causa dos seringueiros e dos defensores da Floresta Amazônica. 

Imagem: fmanha.com.br

Claro que Zuenir não é imparcial nas reportagens que fez. Mas quem o foi  ao tratar de assuntos como,  seringueiros, Floresta Amazônica, Ecologia, Chico Mendes? A impressão que temos é que só havia dois lados: o dos fazendeiros latifundários ou o dos ecologistas. Zuenir deixa claro que de que lado está, mas acima de tudo revela um Chico Mendes, inteligente, estrategista, pacifista, que mais que um pedaço de terra para os seringueiros defendeu uma Floresta preservada para todos.

"Só depois que ele morreu, aos 44 anos, é que o Brasil descobriu haver perdido o que custa tanto a produzir: um verdadeiro líder." Zuenir Ventura

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Biblioteca no Ponto de ônibus

Gente, sou mesmo rato de biblioteca. Quer dizer. Deus me livre de ser rato e ainda mais de bibliotecas. Porque os roedores destroem acervos de livros que são como manjar para eles. Mas eu adoro uma biblioteca  e seu cheiro, adoro tocar nos livros, sou muito apaixonada por eles. Então onde tem uma biblioteca lá estou eu.

Sabe aquelas ideias maravilhosas que que são a sua cara, que combinamcom você? Pois aqui no meu Estado, mais precisamente na Grande Vitória, há uma ideia assim, a minha cara, a Biblioteca do Transcol.

Imagem daqui

Sempre pensei num projeto assim, onde a informação e a leitura estivessem ao alcance de todos. Mas entre sonhar com o projeto e ter tempo e condição para desenvolvê-lo há uma grande distância. Mas graças a Deus alguém sonhou e realizou e hoje os terminais rodoviários, onde se concentram o transporte coletivo da Grande Vitória contam com bibliotecas para os passageiros.

Imagem daqui
Há pouco tempo chegou no terminal que frequento, onde desembarco quando venho para o trabalho e embarco quando vou embora a tarde. Ontem quando cheguei lá, deixei a pressa de lado e fui bisbilhotar. Toquei nos livros, li páginas e orelhas de alguns, acariciei outros. Além disso conversei e fiz um monte de perguntas ao atendente e no final, é claro, fiz minha carteira de sócia. A carteirinha fica pronta na hora, basta ter um documento e comprovante de residência. Fiquei impressionada com o grande número de usuários que estão frequentando as Bibliotecas do Transcol.

Imagem daqui

Como estava no finalzinho do livro "Parem de falar mal da rotina", da Elisa Lucinda aproveitei e  tomei emprestado um do Zuenir Ventura, "Chico Mendes: crime e castigo".

Esperar o ônibus agora ficou muito mais fácil e prazeroso. Bom melhor dizer que agora esperar o ônibus ficou menos difícil e o tempo de espera pode ser aproveitado com  prazer, informação, cultura...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Livro Também é Obra de Arte

No dia que voltei ao trabalho recebi, no Centro de Documentação, um Missal Romano de 1908 para o acervo do nosso Museu. Apesar de ter pouco mais de 100 anos (há livros mais antigos e até mais importantes)  a beleza de sua encadernação e impressão nos obriga a conservá-lo.

A capa em madeira, forrada com tecido de algodão é ornamentada com cantoneiras e enfeites em renda de ferro e pedras. As pedras desse livro podem ser ametista, mas necessito de uma avaliação mais profissional para afirmar. Até o Renascimento os livros eram guardados deitados e não em pé como vemos hoje nas estantes. Então a pedra incrustrada, nesse caso, protegia a capa do livro porque o deixava acima da superfície.

A ametista é uma pedra muito usada em ornamentos religiosos. Sua cor está associada a penitência, a piedade  e a humildade. Na Idade Média acreditavam que essa pedra encorajava o celibato e  ela se tornou símbolo da espiritualidade. Por isso muitos paramentos da Igreja Católica foram ornamentados com a ametista.

No século XV surgiu a imprensa e o livro foi muito difundido. A encadernação tomou  importância de obra de arte  e seu mercado cresceu muito deixando de ser uma exclusividade dos monges. Foi um tempo em que cresceram os ateliês privados de encadernações.

O livro que recebi foi impresso em 1908, como mostro na foto acima,  em Latim,  na Europa. No enchimento da contra capa encontrei papeis escritos em alemão. Encontra-se bem conservado,  porém com vestígios de umidade. O próximo passo será higienizar todas as sua partes (capa, lombada, páginas), procurar todas as informações possíveis a respeito dessa obra (tipo de material usado na impressão e encadernação, tipo de papel, para que e onde serviu, como chegou aqui),  fazer pequenos reparos e só então colocá-lo nas prateleiras (protegido por vidros) de exposição do Museu Arquidiocesano para apreciação pública.

 
Há ilustrações belíssimas em muitas de suas páginas. Considero importante que o povo veja um livro que foi usado nas Missas até antes do Concílio Vaticano II no início da década de 1960.

Está perfeita, apesar da péssima foto que fiz, a douração em suas bordas. Esse tipo de capa ainda era feita por artesãos no final do século XIX. Portanto é bem possível que alguém tenha encomendado um trabalho desse no início do século XX a um especialista em encadernação.

 Lendo e estudando sobre o assunto percebo que ainda preciso aprender tanto. Mas agora é arregaçar as mangas, calçar as luvas e mãos a obra, literalmente.

Fontes:

BECK, Ingrid - Manual de Conservação de Documentos. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, 1985
Funart, Rio, 1988;CASTELLO BRANCO, Zelina - Encadernação História e Técnica. Editora Hucitec, São Paulo, 1978.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Quanta Saudade do Meu Trabalho, Sou Louca?

Quanta saudade desse lugar! Das pessoas, dos amigos que fiz por aqui ao longo desses 24 anos, das coisas e dos objetos, das paredes, algumas tão antigas e com tanto pra contar e falar. Mas saudade mesmo, estava dos livros e dos documentos, do cheiro deles, da textura e gramatura do papel que foi feito cada um. Parece loucura e certamente é. É a minha loucura amar tanto um trabalho, ser tão feliz exercendo uma função que as vezes tenho medo desse amor demasiado e exagerado.

Ai que medo de quando eu não tiver mais que vir aqui todos os dias. Medo de me acostumar com a ausência dos meus colegas, de não me importar mais com eles e nem eles comigo. Na verdade, tenho medo do que desconheço. É claro, tenho consciência que esse dia vai chegar e também da minha enorme capacidade de adaptação ao novo. Facilidade de escrever uma nova história sempre foi uma qualidade minha.

Essa sensação de prazer no trabalho, de satisfação e realização que sinto se faz muito mais forte quando volto das férias. Talvez pelo fato de ter ficado afastada mais de 30 dias ou talvez porque eu seja louca de jogar pedra mesmo. O fato é que ao entrar no setor hoje pela manhã, dei um abraço forte nos meus companheiros, inspirei fundo para me impregnar desse aroma de história, memória, de vida que foi e vida que segue.

 

E a minha segue, para mais um ano, se Deus quiser, de trabalho, muito trabalho, projetos, novos conhecimentos, partilha do que sei e do que sinto. Mais um ano de sentir e fazer crescer esse amor pelo trabalho, por esse trabalho e depois novamente as férias para descansar o corpo, a cabeça e me encher de saudades de novo.